Jussara Lucena, escritora

Textos

O que você faz com o seu tempo?

Depois de me despedir de um colega de trabalho que findou sua passagem terrena, me peguei mais uma vez pensando no tempo, do que faço com o meu tempo, para quem o dedico.
Antes da Revolução Industrial o homem se guiava pelo tempo da natureza e assim distribuía suas tarefas ao longo do ano de acordo com as estações mais chuvosas, menos chuvosas, pelas fases da lua. Depois dela, os indivíduos passaram a se guiar pelo tempo da fábrica e ‘perdiam tempo”, ganhavam tempo” ou “economizavam tempo”, por exemplo. Também surgiram expressões como “tempo é dinheiro”, talvez a frase base do capitalismo.

Usar melhor o tempo passou a ser primordial e possuir um relógio na ilusão de tentar controla-lo, indispensável. Mas qual seria então a melhor forma de ocupar o tempo ou no que valeria a pena investir nosso tempo? Vejam que quando usamos o termo “investir”, já pensamos em retorno, no alcance de um benefício esperado.

Lembrei-me de um dos meus cursos de especialização quando um professor de Administração do Tempo, vestindo um terno que mais lembrava um agente funerário de filmes americanos, fez a seguinte proposta para a classe: “Imaginem que vocês descobriram que tem somente cinco anos de vida. Anotem na folha de papel quais seriam as dez coisas que gostariam de fazer até o final deste tempo, aquelas que realmente são importantes para vocês.”

Ele reduziu as luzes da sala, colocou ao fundo uma melodia melancólica e nos deu dez minutos para a tarefa. Ao final, pediu que revisitássemos a lista, deu um tapa na mesa e anunciou: “Houve uma reavaliação médica, vocês têm somente um ano de vida”. E o processo se repetiu.

O clima já estava ficando tenso, quase todos estavam debruçados sobre as carteiras, com o rosto quase colado às folhas de papel. O cronometro soou e ele bradou: “vocês morrem amanhã, o que fariam nestas horas que lhes restam?”

Quando ele reacendeu as luzes, além de perceber lágrimas e a angústia nos olhares de boa parte da turma, notamos que na maioria das listas não houve alteração significativa nos itens, permanecia quase que intacta a relação inicial. Sim, era possível fazê-las ou resolvê-las num último dia de vida. Uma questão de administração do tempo? Tecnicamente poderíamos dizer que sim. Eu diria que identificamos o que realmente era importante para cada um de nós.

Este é um exercício que deveríamos refazer com certa frequência pois a pressão cotidiana nos faz esquecer o que realmente importa, o que fará diferença no momento de nosso último tic-tac. Voltando ao exercício que fizemos em sala de aula, acreditem, na maioria das listas não haviam objetivos para conquistas materiais.

Fica aqui um trechinho da letra da canção Trem bala de Ana Vilela:

“Não é sobre tudo que o seu dinheiro é capaz de comprar
E sim sobre cada momento, sorriso a se compartilhar
Também não é sobre correr contra o tempo pra ter sempre mais
Porque quando menos se espera, a vida já ficou pra trás.

Segura teu filho no colo
Sorria e abraça os teus pais enquanto estão aqui
Que a vida é trem bala, parceiro
E a gente é só passageiro prestes a partir.”

Texto publicado no Espaço do Leitor do jornal Gazeta Informativa em 09/06/2017

Adnelson Campos
20/06/2017

 

 

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